Procura por imóveis compactos começa a atrair morador e investidor
O isolamento social advindo da pandemia da Covid-19 trouxe, consigo, a necessidade de reconfiguração de uma série de comportamentos do consumidor e, consequentemente, novos rumos mercadológicos. No segmento imobiliário, há uma perspectiva de procura por moradias mais compactas. Em uma imobiliária do Recife, por exemplo, nos últimos 60 dias a busca de clientes por imóveis com este perfil a fim de reduzir despesas ou mesmo investir aumentou em até 30%. Construtores também oferecem opções variadas no momento.
ara o presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis de Pernambuco (Sindimóveis), Lourenço Novaes, esta é uma forte tendência de mercado. “Muitos investidores e moradores estão pensando em migrar para imóveis menores pensando na questão dos custos do condomínio. Além disso, a mira é para flats, apartamentos com dois quartos, coisas compactas. É algo que, na prática, vamos sentir daqui a mais alguns dias, mas considero como uma tendência real, de reinvenção de mercado. Até porque é provável de que também as empresas precisem diminuir suas estruturas”, analisa.
O diretor de assuntos institucionais do Sindicato da Habitação (Secovi-PE), Elísio Cruz, afirma não denominar a situação como tendência, pois é algo que já estava acontecendo com mais frequência antes da pandemia. “Estamos tendo uma disponibilidade mais acentuada deste tipo de imóvel no mercado porque os jovens, principalmente de maior poder aquisitivo, saem de casa cada vez mais cedo para morar só em locais de menor tamanho, mas com boa localização e acesso a serviços diversos”, afirma. Ele já verifica, entretanto, a realidade da busca por imóveis de menor custo. “Nem sempre o menor é mais barato, porque estes preços têm muito a ver com o valor do metro quadrado. É real, entretanto, esta movimentação que verificamos em todas as crises. A pandemia está trazendo este desconforto às pessoas, que por terem seus salários reduzidos ou mais comprometidos estão partindo para os mais baratos. Muitos ainda não conseguem migrar já que há as cláusulas de proteção contratual de multa por quebra do contrato, mas as buscas já acontecem”, revela.
O sócio diretor da imobiliária Zaidan Imóveis, Felipe Zaidan, conta que nos últimos 60 dias viu aumentar em 30% a procura de pessoas interessadas em migrar de apartamentos maiores para os mais compactos. Seus 11 corretores vêm fazendo de dois a três atendimentos diários. “O mercado de maneira geral, parou, então aproveitamos e trabalhamos em um nicho que está aquecendo”, afirma. Trabalhando com imóveis de um a dois quartos, cujas metragens variam de 25 a 40 metros e com tíquete médio de R$ 150 a R$ 300 mil, Felipe revela que ficou surpreendido com o aumento da procura. “São pessoas que pretendem abandonar as altas taxas de condomínio e IPTU elevados para investirem em imóveis com custos mais acessíveis e que possam trazer maior liquidez. Tenho recebido, todos os dias, ligações de proprietários de casas localizadas em áreas como Gravatá”, afirma.
Um destes exemplos é o do administrador de empresas Leonardo Figueiredo, 43. Negociar seu imóvel, em Gravatá, é algo em que já vinha pensando mesmo antes da pandemia, já que o imóvel possuía altos custos de manutenção e a geração de renda sazonal. “Estou tentando vender para fazer negociação com um apartamento compacto. Uma casa de veraneio tem pouco uso e muitos gastos. Os meus mensais, por exemplo, são de R$ 1 mil fixos (R$ 700 de condomínio e R$ 300 de diarista), além dos de manutenção ocasionais”, afirma. Ele acredita, ainda, que após a pandemia, muitas pessoas procurarão vender os imóveis para se capitalizar ou sair de alugueis caros para apartamentos com menos custos, podendo surgir uma procura maior por aluguéis de flats. “Estes possuem uma rotatividade”, finaliza.
O construtor Saulo Suassuna Fernandes está com lançamentos na zona Norte do Recife, nos bairros de Casa Forte e Jaqueira. Conta que nos primeiros 30 dias de isolamento, a procura caiu bastante, principalmente depois da segunda semana, mas que depois as vendas recomeçaram. “Chegou a cair 100% neste início. Depois, chegamos à metade da procura que tínhamos antes da pandemia. Hoje, diria que estamos no equivalente a 70% de antes. E é quando as pessoas voltaram a consultar, pesquisar pela internet e fechar negócios novamente”, revela.
Sobre as buscas por compactos, ele relata que houve uma migração forte de investidores tradicionais, da bolsa, devido à volatilidade da mesma. Além disso, algumas pessoas chegaram a perder entre até 30 e 40% das suas economias. “Some-se a esta situação, o fato de as taxas estarem as menores da história e os estoques zerados ou até acabando”, analisa. Na sua construtora, Saulo trabalha com projetos de apartamentos que permitem adaptações entre os cômodos. “São módulos pequenos que podem ser combinados e se transformarem um espaço maior, no futuro, quando houver uma nova reconfiguração e ajuste das coisas”, finaliza.
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